segunda-feira, 13 de agosto de 2007

.:. CHIC destaca - Artigo de Fábio Doyle .:.

O SILÊNCIO ACOVARDADO DOS EX-EXILADOS

Dois boxeadores cubanos que abandonaram os jogos Pan-Americanos foram devolvidos pelo governo brasileiro ao regime ditatorial de Fidel Castro. Uma operação muito estranha e que fere princípios constitucionais e normas éticas dos direitos humanos.

A ESQUERDA brasileira, marcadamente a que se intitula, ou se julga, intelectual, apóia sem cobranças todos os mandos e desmandos do governo do sr. Luiz Inácio Lula da Silva. Certamente por isso, não se ouviu, pelo menos até o momento em que escrevo, um final de semana da primeira terça parte do mês de agosto, um protesto, uma crítica, uma dúvida que seja, sobre a deportação dos boxeadores cubanos Guillermo Rigondeaux e Erislandi Lara. Como é do conhecimento geral, quatro atletas, que faziam parte da delegação de Cuba nos jogos Pan-Americanos, abandonaram a concentração a eles destinada no Rio e tomaram destino ignorado.

DOIS DELES, os já citados, foram localizados em Araruama, uma praia do litoral fluminense. Presos, foram embarcados em um avião fretado pelo governo cubano, e já estão em Havana, recolhidos a uma "casa de visita", nome que o governo de Fidel Castro dá a um albergue penitenciário. Não puderam manter contato com a imprensa nem com nenhuma entidade de defesa dos direitos humanos. A determinação do Palácio do Planalto, de deportação imediata, teria sido dada pelo sr. Marco Aurélio Garcia, assessor internacional de Lula e famoso pela comemoração obscena relacionada com a tragédia do Airbus da Tam no aeroporto de Congonhas.

A REAÇÃO dos que ainda acreditam nos direitos humanos, entre eles o de conseguir asilo em um país estrangeiro, foi imediata. Os jornais, sempre a imprensa defendendo o respeito às leis e aos direitos, contaram toda a história. Ressaltando a preocupação que é de todos nós, quanto ao que a ditadura cubana, rigorosa com os que procuram escapar do suposto "paraíso cubano", irá fazer com os dois boxeadores. Já se sabe, e isso foi revelado no dia 7, que Fidel Castro, embora licenciado, mas mandando ainda, determinou que os dois atletas sejam proibidos de integrar equipes esportivas e de praticar o esporte, os dois são campeões em suas especialidades.

O QUE se estranhou foi o silêncio, diante do absurdo praticado pelo governo Lula, daqueles que mais deveriam protestar, pois viveram situações semelhantes. Os que, como elementos atuantes da esquerda, adversários do regime militar de 64, participantes das guerrilhas e dos movimentos subversivos que tentavam implantar no país um regime inspirado no castrismo de Cuba, se transformaram em exilados políticos. Com o retorno do país à normalidade democrática, voltaram e hoje são senadores, deputados, governadores, prefeitos, jornalistas, escritores, professores. O silêncio deles, em face da deportação dos cubanos, incomoda.

TERIA sido muito mais digno, mais ético, mais correto, se o governo federal, que autorizou a deportação, acolhendo pedido de Fidel Castro, tivesse agido com transparência. Afinal, está na Constituição brasileira, no seu art. 4oX, a garantia da concessão de asilo ao estrangeiro que se sentir politicamente ameaçado em seu país. Os dois boxeadores, homens de origem humilde, atletas consagrados, foram mandados de volta sem que a eles tivesse sido dada a oportunidade de livremente manifestar a vontade de ficar ou de retornar a Cuba. A imprensa, que tentou ouvi-los, foi impedida pelas autoridades brasileiras e pelos representantes de Havana, que vieram ao Rio com o objetivo de recambiar os dois fugitivos. Por que não convocaram representantes da OAB, das entidades de defesa dos direitos humanos, para uma conversa livre e direta com os dois atletas? Por que o Ministério das Relações Exteriores se omitiu em todo o estranho episódio?

REGISTRE-SE que houve protesto no Senado. Até o senador Eduardo Suplicy, petista histórico, estranhou a pressa com que a deportação foi executada. Mas no dia seguinte, mudou o tom. E contestou a versão de que as famílias dos dois boxeadores estariam sofrendo ameaças de Fidel, se eles não voltassem. Ingênuo, revelou ter telefonado, ele próprio, para a mãe de um dos atletas, e ela negou ter sofrido qualquer tipo de pressão ou ameaça. Vivendo em Cuba, policiada e vigiada como deve estar sendo pelo regime ditatorial de Castro, teria a pobre mulher coragem para dizer o contrário? Um "inocente cor-de-rosa" este ameno, vagaroso e bem-intencionado Suplicy.

O CASO dos cubanos leva à comparação com outro, ocorrido no passado, quando Getúlio Vargas, também ditador, determinou o repatriamento de Olga Benário Prestes, uma cidadã alemã, de origem judaica e que era casada com o líder comunista Luiz Carlos Prestes. Olga ao chegar a seu país, em pleno regime nazista, foi condenada à morte. O mais estranho: apesar disso, Prestes, insensível pragmático na busca do poder, anos mais tarde, deu apoio eleitoral, seu e de seu grupo, a Getúlio.

SÃO acontecimentos que marcam. Ninguém esquece o que Vargas fez com Olga. Ninguém esquecerá o que o governo Lula da Silva fez agora com dois boxeadores cubanos. A história é implacável no julgamento dos fatos e dos homens.


Fábio P. Doyle
Jornalista
Da Academia Mineira de Letras

Um comentário:

Anônimo disse...

querido amigo já esperava artigos de de qualidade afinal você é um grande jornalista, parabéns pelo novo canal de informações, esse artigo de Fabio Doyle é simplismente maravilhoso.
muito sucesso para você.

Um grande abraço de sua

Rivane Lucas