quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

.:. O PODER NÃO É ETERNO .:.

O mundo é redondo e dá voltas. Os poderosos precisam perceber que depois de uma noite vem o dia. É o que está acontecendo com mais um ditador. Só que sua noite durou 49 anos.

Foto: Divulgação
FIDEL Castro deixa a presidência do Conselho de Estado e o posto de comandante-em-chefe do governo de Cuba. Em palavras mais claras: Fidel deixou de ser o ditador de seu país, 49 anos depois de derrubar outro ditador e assumir o poder para, segundo ele, dar liberdade e segurança aos cubanos.

OS QUE acompanham a carreira do comandante Fidel sabem que ao assumir a chefia do governo, em 1959, houve apenas a substituição de um ditador por outro ditador. Os cubanos, em vez de ganharem mais liberdade e segurança, perderam o pouco que ainda dispunham de direitos humanos. Pelo que se sabe, como ditador ele tomou algumas medidas boas. Investiu na saúde, empenhou-se na educação de seu povo. Mas negou-lhe a liberdade. Aliás, pensando bem, todos os regimes ditatoriais sempre podem apresentar alguns aspectos positivos. Mas os negativos, como o desrespeito às leis e aos direitos individuais, são inerentes aos governos de força. E imperdoáveis pelo sofrimento que provocam.

FIDEL afastou-se mesmo do poder? Enquanto estiver vivo, o que ele determinar será obedecido. Seu sucessor é seu irmão. Os demais membros do Conselho de Estado são seguidores de seus princípios. Doente, mas podendo ainda mandar, mesmo que sem ocupar cargos e postos de comando, sua palavra será lei ainda por algum tempo.

MAS um dia, e este dia se aproxima, Fidel será apenas uma referência na história, como líder carismático que é. E Cuba irá se reincorporar aos países livres do mundo. O poder discricionário, qualquer que seja ele, governamental ou não, não dura para sempre. O tempo é implacável - no caso de Fidel, durou muito mais do que o normal - e os poderosos um dia deixam de o ser. Assim aconteceu com Hitler, na Alemanha, com Mussolini, na Itália, com Stalin, na extinta URSS, com Mao Tsé Tung, na China, com Franco, na Espanha, com Salazar, em Portugal, com Vargas, o bom tirano, no Brasil. Mandavam e desmandavam, eram obedecidos não por amor, mas por temor, impunham suas decisões, prendiam e arrebentavam, matavam. Um dia, tudo acabou. O mesmo sucede nas grandes corporações empresariais, até nos clubes de futebol. No futebol, os dias de fausto e de glória dos dirigentes, técnicos e jogadores que ganham campeonatos, acabam, e são esquecidos, substituídos por outros heróis do momento. Os poderosos, como os ditadores e outros que tais, que se julgavam donos do mundo, acabam ficando de cuecas, às vezes até sem elas, diante do julgamento implacável da história.

É O QUE vai acontecer, e já está acontecendo com o barbudo Fidel Castro, e com todos os outros que nele se inspiram. Raúl Castro, o irmão que herdou a ditadura, pelo que se sabe, tem admiração pelo modelo chinês. O gigante asiático, comandado com mão de ferro e fogo pelo impassível e insensível Mao, comunista ao estilo de Stalin, transformou-se, depois de sua morte, em um misto de país socialistas e capitalistas. E deu certo. Stálin, também comunista, impassível e insensível, teve todos os monumentos em sua homenagem derrubados e destruídos, graças a Gorbatchov, primeiro, e a Yeltsin, em seguida. A URSS transformou-se em Rússia, o império comunista desmoronou, dividiu-se em diversas repúblicas independentes e livres.

O MUNDO, dizem os brasileiros, é redondo, e dá voltas. É só esperar o dia de amanhã. No caso cubano, uma exceção lamentável, o amanhã demorou a chegar por longos e tenebrosos 49 anos. Mas chegou.

Fábio P. Doyle
Jornalista
Da Academia Mineira de Letras

Nenhum comentário: