terça-feira, 22 de abril de 2008

.:. ORQUESTRA DESAFINADA .:.

Por Fernando Calmon

Os consumidores continuam indo às compras sem, aparentemente, se preocupar com o aumento da taxa básica de juros (Selic). Abril deve fechar com outro recorde de vendas, mas a agitação nos bastidores da indústria fervilha. Em curto prazo a preocupação se concentra na greve dos auditores fiscais. Encerrada agora depois de mais de um mês, deixa um rastro de desorganização na cadeia de importação e exportação de componentes. Além de recorrentes, essas greves trazem prejuízos graves à credibilidade do comércio exterior do País.

Os reflexos na produção de veículos serão sentidos nas próximas semanas. Se já estava difícil encontrar o carro na versão e opcionais desejados, a dificuldade vai aumentar. Não existem sinais à vista de que a demanda deixará de superar as previsões da própria indústria automobilística. É intricado para a nova leva de compradores nos salões das concessionárias entender por que a produção deixa de acompanhar o ritmo forte da procura.

Executivos do setor costumam dizer que se trata de um bom problema: mais fácil administrar o excesso do que a falta de demanda. De fato, a reação até tem sido rápida. Em quatro anos a produção cresceu 65%. Não é pouca coisa. O principal entrave concentra-se no tamanho da cadeia produtiva, uma das mais longas da economia. O segmento de fornecedores apresenta vários níveis e especialidades (da matéria-prima às autopeças). As arestas estão no terceiro e quarto níveis, ou seja, na base de fornecedores de capital nacional, descapitalizados e devendo ao fisco.

O Sindipeças reconhece que os chamados gargalos produtivos atrapalham bastante. Em breve concluirá um estudo que levantará a efetiva capacidade instalada e a competitividade da indústria de autopeças no Brasil. Os investimentos prosseguem: em 2008 crescerão 18,5%, atingindo US$ 1,6 bilhão. As rusgas com os fabricantes de veículos em torno de preços e recuperação de margens perdidas no tempo sempre surgem, mas acabam se entendendo. Afinal, uma frota real de quase 26 milhões de unidades (crescimento de 6% de 2007 sobre 2006) é atrativa em qualquer lugar do mundo, além da taxa de motorização ainda por expandir.

Imbróglio maior é resolver a baixa capacidade de investir dos pequenos industriais. Dinheiro disponível até existe no BNDES, o banco federal de fomento. O enrosco se dá porque longos anos de dificuldades econômicas levaram a maioria deles para o triste CDN (Cadastro Nacional de Devedores) ou outra sigla mais elegante para quem deixou de pagar impostos escorchantes. De vez em quando, o governo oferece planos de reabilitação, porém não parecem suficientes.

Fornecedores de primeiro e segundo níveis, ou mesmo as grandes marcas automobilísticas, talvez pudessem se juntar para alguma espécie de aval. Tomar essa providência – salvo iniciativas bem pontuais –, segundo se sabe, passa ao largo, quiçá a uma grande distância. Outro fato: de 1995 a 2007 a participação das matérias-primas nos custos de produção das autopeças subiu de 36% para 63%, exigindo ainda mais capital de giro.

A festa nas concessionárias não acabou, mas uma orquestra desafinada pode atrapalhar e causar muita confusão. Os músicos precisam se entender.

RODA VIVA

FIAT reabilitará o motor de 16 válvulas em busca de maior potência, premida pela fase de escalada de desempenho que assola o mercado. Motor Fire de 1,4 litro deve passar a 105 cv (álcool), inicialmente para o Punto, pesado demais para o propulsor atual. Volkswagen acaba de aumentar também para 105 cv a potência do seu 1,6-litro. Coincidentemente, ambos no mesmo patamar do 1,4-litro (8 válvulas) mais forte da GM...

ASSOCIAÇÃO de importadores independentes, conhecida como Abeiva, está recuperando musculatura. Até o segundo semestre deve subir de 8 para 15 associadas. Além de mais duas marcas chinesas, esperam-se Chrysler, Dodge, Jeep (desligadas da Daimler), mais Jaguar e Land Rover (ambas ex-Ford). No primeiro trimestre, puxadas pela Kia, as vendas cresceram 200% em relação a 2007.

EMBORA não apresente a suavidade nas trocas de um verdadeiro câmbio automático, o automatizado do Stilo tem ótimo desempenho. Modo automático permanece ativo mesmo depois de selecionar manualmente uma marcha, sem necessidade de reposicionar a alavanca. No pára-e-anda do trânsito, desde que o carro esteja no plano, é possível arrancar suavemente em segunda marcha, sem danos à embreagem.

JEEP Cherokee Sport avançou em termos mecânicos, além de retoques de estilo. Tração 4x4 é permanente. Bitola e entreeixos um pouco maiores e caixa de direção por pinhão e cremalheira (finalmente) melhoraram a dirigibilidade. Suspensão dianteira independente e traseira por eixo rígido (passou a multibraços) também respondem por nítida evolução em estabilidade direcional e curvas.

MOTOR V6 no Chrysler 300 C permitiu baixar o preço para R$ 140.000,00 (18% abaixo do V8) e ainda assim se mostra mais do que suficiente para o seu porte avantajado. Fábrica demorou demais para oferecer essa melhor opção.

Fernando Calmon é jornalista especializado, escreve para vários sites, blogs e é correspondente da revista Chic, em São Paulo.

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