domingo, 21 de setembro de 2008

.:. DESEMPREGO QUALIFICADO .:.

* Luciano Pires

Socorro! Minha casa está em reforma! O pedreiro estraga a porta, o marceneiro estraga o gesso, o gesseiro estraga a pintura, o pintor estraga o piso, o ladrilheiro estraga a parede... Contratei uma empresa para não ter dor-de-cabeça com os pedreiros e agora tenho dor-de-cabeça com os donos da empresa.


Como é difícil encontrar bons profissionais! Por isso fico cismado com a questão do desemprego em nosso país. Afinal, faltam empregos ou faltam profissionais?

Em 2007 tínhamos no Brasil 98,6 milhões de pessoas inseridas no mercado de trabalho. E, desse total, oito milhões desocupadas. Oito milhões de desempregados e não consigo um pedreiro que preste!

Aí leio num artigo “A falta de mão-de-obra é hoje um dos principais gargalos do setor da construção civil no Brasil. Segundo pesquisa da Escola Politécnica da USP, isso custará ao setor R$ 5,1 bilhões, valor estimado para a geração de vagas em cursos de capacitação e para certificação de trabalhadores. A pesquisa levantou que precisamos multiplicar por mais de 13 vezes a oferta para atender a demanda.”

Logo em seguida encontro a pesquisa “Falta de Talentos”, realizada pela Manpower, uma das grandes empresas globais na área de Recursos Humanos. A pesquisa aconteceu em 2006 em 23 países, envolvendo 33 mil empregadores. O objetivo era determinar o impacto que a ausência de candidatos qualificados está causando no mercado de trabalho.

Os resultados revelaram que 40% dos empregadores têm dificuldades para ocupar posições, por falta de talentos em seus mercados.

A Manpower diz que “em dez anos veremos muitos negócios fracassarem por não saberem planejar com antecipação a maneira como encarar a escassez de talentos.”

Então dois amigos, excelentes profissionais, dizem que essa conversa de falta de talentos é papo-furado, que eles têm todas as qualificações, mas estão desempregados há meses. Quando se candidatam a uma vaga, invariavelmente recebem a informação de que estão superqualificados. E que estão acima da idade desejada para o cargo.

Será que estamos medindo direito o desemprego, hein? Que perguntas são feitas para definir se o sujeito é um desempregado? Será que alguém pergunta sobre a razão de ele estar desempregado? Ou isso não é importante?

Pois faço um desafio. Em vez de medir a quantidade, que tal medir a qualidade do desemprego? Sim, senhor, qualidade: que emprego está sendo oferecido e não consegue candidatos à altura?

Não será surpresa descobrir que não existe um “desemprego no Brasil”. Existem vários. Qualificados. Aqui sobram vagas, pois faltam talentos, e ali sobram talentos, pois faltam vagas. E simplesmente somar, dividir por dois e anunciar que o desemprego no Brasil é “xis” não leva a qualquer conclusão prática!

Mas a surpresa – ou não – acontecerá quando começarmos a questionar quem está fazendo o recrutamento e a seleção nas empresas. Veremos que a maioria é gente limitada a seguir “scripts” e buscar o impossível: um jovem recém-formado com “pelo menos três anos de experiência profissional”...

Desemprego qualificado: só assim entenderemos o problema.

Mas muita gente vai se incomodar ao descobrir que o combate ao desemprego no Brasil não é apenas uma questão de qualificar os candidatos. Tem que qualificar os empregadores também.

Alguém conhece um pedreiro bom por aí?
Luciano Pires é jornalista, escritor, conferencista e cartunista. Faça parte do Movimento pela Despocotização do Brasil, acesse http://imprensa.misasi.com.br/lt.php?id=H%7C103727%7C15257%7C1563.

Nenhum comentário: