sexta-feira, 23 de maio de 2008

.:. Um milhão de carros: temos o que comemorar, sim! .:.

Luis Fernando Machado e Silva*

Um milhão de carros! Enfim, após muita expectativa, a frota do Distrito Federal chega a essa marca histórica. A quantidade expressiva de veículos que circulam pela capital e cidades-satélites, como em outros grandes centros urbanos, obviamente, traz conseqüências negativas e positivas. De um lado indica o crescimento econômico do país e o aumento da capacidade de compra do consumidor que, em busca de conforto, praticidade e por que não dizer status, aproveita as facilidades do mercado para adquirir um carro zero quilômetro, fazendo uso de pleno direito. De outro está o trânsito engarrafado, a poluição, a escassez de vagas e tempo perdido no tráfego intenso.

Mesmo com esses problemas, cuja solução exige esforço e planejamento do poder público, além da colaboração dos motoristas, a população do DF tem o que comemorar. Vende-se mais carros, mas há geração de renda, emprego e mais arrecadação de impostos. Um dos principais investimentos que uma pessoa pode fazer é comprar um carro novo. A economia estável propiciou o crédito farto, taxas de juro mais baixas, diversas opções de financiamento, com prazos estendidos, e deu a possibilidade das classes C e D realizarem o sonho de investir em um automóvel.

Brasília é uma cidade com poder aquisitivo alto. O simples cidadão que, com muita luta, teve condições de adquirir um automóvel, não vai e nem deve abrir mão de ter essa comodidade. Com todas as vantagens encontradas no mercado, o crescimento do setor automotivo é inevitável. Os números mostram isso. Em 2007, houve um crescimento nas vendas de veículos novos de 30,84%, em relação a 2006. Este ano, até abril, os emplacamentos já registram alta de 35,77%. Claro que não há como ficar indiferente ao grande volume de veículos no DF. Mesmo porque as mudanças estruturais realizadas até agora nessa região não acompanharam o rápido aumento da frota.

Só a efeito de comparação, de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), no acumulado de 2007 foram vendidos, em todo país, 2.462.728 veículos, o que rendeu um aumento de 27,8% em relação a 2006, quando 1.927.738 unidades foram comercializadas.

Contudo, frear o desenvolvimento ou impor a redução do prazo de financiamento, como já foi cogitado, não resolve. Torna-se urgente investir na melhoria da malha viária, no transporte público de qualidade e em estacionamentos. A adoção do rodízio para limitar que um número de veículos com determinado final de placa circule pela cidade ainda não é o caso do DF. Tampouco onerar os motoristas com a cobrança de pedágios nas áreas de maior tráfego. É importante frisar que ambas as medidas já foram propostas por meio de um Projeto de Lei encaminhado pelo Ministério das Cidades ao Congresso Nacional.

A solução passa por um conjunto de medidas de curto, longo e médio prazo, que privilegie um transporte integrado e a modernização dos acessos que ligam Brasília às cidades-satélites. Algumas obras, inclusive, estão sendo realizadas e, de certa forma, causam transtornos no trânsito. Mas não há motivos para pânico. O que tem trazido aborrecimento aos brasilienses, mais tarde facilitará a vida de todos.

Nesse processo de mudanças urgentes, perder o foco é inadmissível. Se for preciso fechar uma pista e abrir outra ou criar novos acessos, as autoridades competentes devem fazê-lo. Mexer na infra-estrutura da cidade causa efeitos que, a priori, podem não ser bem recebidos pela população. Mas não há como ficar de braços cruzados e culpar apenas o número de carros que circulam pelas ruas. As pessoas devem e podem cobrar mais agilidade nas mudanças fundamentais que precisam ser feitas. Felizmente, o DF comporta essas alterações. Há muito o que melhorar. Com seriedade, é possível oferecer condições para que a população possa se locomover com agilidade e conforto.

Outra questão a ser resolvida é a circulação de um grande número de veículos com mais de 15 anos de idade, sem condições de uso. Promover a renovação da frota é algo indispensável para ajudar a manter a fluidez no trânsito. Além de provocar acidentes, eles poluem mais e atrapalham o tráfego. Além disso, eles não contribuem em nada na solução da falta de estacionamentos e na diminuição dos engarrafamentos.

O debate para aprimorar o trânsito do Distrito Federal e, ao mesmo tempo, garantir o desenvolvimento sempre deve ocorrer. O DF não pode ficar à margem do crescimento de outras grandes metrópoles e, sim, precisa ser referência, como já é em setores como Saúde e Educação. Na área do transporte não pode ser diferente.

*Presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos Autorizados do Distrito Federal (SINCODIV/DF)

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