Por que 60 anos de carreira, Cauby? Qual é o início de sua trajetória?
Decidi festejar os 60 anos porque comecei a cantar aos 16 anos de idade, escondido, na boate “Oásis”, na Rua 7 de abril, em São Paulo. Eu já cantava antes. Mas considero que foi lá a minha estréia profissional, embora eu cantasse poucas músicas. Em 49 fiz minha primeira apresentação na rádio. E em 51 lancei meu primeiro disco, pela Som, com o samba “Saia Branca”, de Geraldo Medeiros, para o Carnaval. E mais tarde voltei a cantar na Oásis, já oficialmente, maior de idade, em shows de verdade.
Você e Nelson Gonçalves foram amigos?
Sim, claro que sim. E bem amigos, apesar de nossos temperamentos diferentes. Ele era um artista notável e um homem simples, que gostava do sucesso dos outros e não tinha qualquer inveja. Na época, muitas pessoas tiveram inveja de mim, porque surgi de uma maneira arrasadora. Cheguei a segurar a minha voz em três milhões de cruzeiros. Como disse, o Nelson não tinha inveja alguma. Isso devido a seu caráter, mas, também, porque talvez tenha sido o maior cantor do Brasil. Tinha um grave importantíssimo para uma voz.
Há alguma passagem especial sobre a vida de Nelson que você recorda? Alguma cena?
Sim, há uma história divertida. Sempre que diziam para o Nelson que alguém tinha a voz igual à dele, ele aceitava conhecer o cantor. Aí Nelson pedia para que cantasse ‘Maria Bethânia’. E na hora do grave, o cantor denunciava que não tinha a voz do Nelson....
Por que a festa no Bar do Nelson?
Em primeiro lugar porque a Lilian Gonçalves convidou-me e aceitei! Além disso, fui, como disse, amigo do Nelson. E esse bar é um reconhecimento bonito e muito raro em nosso país. Além disso, fiz pela Lilian Gonçalves, que criou o bar em homenagem a seu pai. Lilian é uma pessoa impressionante, com méritos chamada de ‘a Rainha da Noite de São Paulo’. É praticamente impossível o que ela faz: cuidar de uma rua inteira, sempre com a mesma disposição, amor e carinho!
O que você sente... (neste momento o repórter é interrompido por Cauby.)
Quero ressaltar que eu quis comemorar em São Paulo, já que o paulistano me adora e é muito carinhoso comigo. Sempre tive uma relação bonita com o público daqui, mas desde que comecei a cantar, há cinco anos, todas as semanas no Bar Brahma, esta relação se intensificou ainda mais. Sou querido, reconhecido e até parado nas ruas. “Olha o Cauby, olha o Cauby”, dizem em todos os lugares por onde passo.
Tem aquela história engraçada lá no Mercadão, que você contou para mim um dia, da velhinha que não reconheceu você!
(rs) Como é que você lembra-se disso!? É verdade. A velhinha veio em minha direção, parou-me e disse: “alguém já disse que o senhor é a cara do Cauby Peixoto?” Ao que falei: “Eu sou o Cauby Peixoto!”. E ela respondeu: “imagina, o Cauby não andaria aqui, no meio de todos nós, em pleno Mercadão!”. E foi embora, deixando-me parado no meio do Mercado Municipal....(rs)
Mas voltando à pergunta interrompida, o que você sente ao pensar nos 60 anos de carreira?
Sinto orgulho! Orgulho da minha trajetória, de saber que sempre gostei de cantar, que nunca abandonei o microfone e que vivo feliz, porque me encontrei nesta carreira maravilhosa que tenho.
Tem algo do que você se arrepende, Cauby?
Não, acho que não. Ou melhor. Sim. Mas isso é conversa para uma outra entrevista. Um dos arrependimentos: acho que eu deveria ter cantado mais a Dolores. Coloque aí que no show do Bar do Nelson vou cantar “Quem Foi”, da grande Dolores Duran...
Bar do Nelson: Rua Canuto do Val, 83, Santa Cecília – tel: 11-3338-2525. Lugares: 250 pessoas (150 sentadas).
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