sábado, 2 de agosto de 2008

.:. ROUPA NOVA EM CORPO VELHO .:.

* Fábio Doyle

A indústria automotiva brasileira passa hoje pela melhor fase de sua história. Nunca se vendeu tanto carro no país. Até mesmo para os importados os tempos são de vacas gordas. Com o real supervalorizado em relação ao dólar norte-americano, para a classe abastada, nunca os importados estiveram tão “baratos”.

O consumidor brasileiro de carros importados, que estava acostumado a pagar três vezes mais que o consumidor europeu ou norte-americano por um mesmo produto, hoje paga o dobro, às vezes menos.

Para as montadoras, momentos de vendas em alta são também momentos para reduzir custos em busca de maiores lucros e compensar prejuízos passados, em épocas de vacas magras.

Prova disso é que neste ano serão poucos os lançamentos de carros totalmente novos fabricados no país. O que se observa são maquiagens, reestilizações de modelos já existentes, incorporação de algumas tecnologias, e é só.

Há ainda aquelas montadoras que acreditam na ingenuidade do consumidor e mascaram suas ações e decisões para reduzir custos como feitos enaltecedores da qualidade da “engenharia brasileira”. Exemplo recente foi a apresentação industrial do Peugeot 207, que será lançado no Brasil dentro de poucos meses.

A solução industrial de colocar a roupa nova do 207 europeu sobre o corpo velho do 206 foi alardeada pelo fabricante francês para mostrar como está evoluída e preparada a engenharia nacional. Na verdade, foi para esconder que o 207 a ser vendido no Brasil é inferior em modernidade tecnológica ao mesmo carro vendido na Europa, que a estratégia de lançamento enfatizou a “maturidade da engenharia nacional”, antes do produto em si, como é o caminho natural.

O que a Peugeot fez nada mais é do que seguir os passos de seus concorrentes com mais experiência de Brasil que, diante da passividade e baixo nível de exigência e poder de compra do consumidor brasileiro, usa desses subterfúgios para prolongar a vida de produtos ultrapassados em mercados mais evoluídos. É essa a nossa realidade.

Isso, no entanto, não deve nem pode ser confundido com a introdução de novas soluções tecnológicas de conforto em segurança em modelos já existentes, como os exemplos recentes do câmbio automatizado no Chevrolet Meriva e no Fiat Stilo. Isso sim é uma evolução da engenharia nacional, que em breve se estenderá para muitos modelos.

O mesmo vale para o sistema “locker” de bloqueador de diferencial do novo Palio Adventure. Uma tentativa louvável de melhorar a desempenho fora de estrada de um carro que antes apenas vestia a fantasia “off-road”.

Fábio Doyle é jornalista e correspondente da revista CHIC, em Belo Horizonte

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